quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Outra divagação sobre o tempo

“Quando olhamos para trás, cada momento que passou deixa uma leve queimação, uma tênue cicatriz. A isso chamamos Tempo. Uma invenção dos homens.” Marie Jaoul de Ponchevile (Molom – O Xamã e o Menino)

Muitas das frases neste livro me fizeram refletir. Mas esta eu achei extremamente significativa.
Nosso passado deixou diversas marcas, na verdade, todos os momentos da nossa vida ficam gravados no nosso Interior. Algumas destas marcas são percebidas facilmente, se manifestando diretamente na nossa forma de ser e de reagir a Vida. Outras, ficam quase escondidas, como um borrão num cantinho da página.
Normalmente é mais fácil percebermos aquilo que ficou gravado nos momentos de dificuldade, as cicatrizes mais profundas. Isso se deve ao fato de darmos mais valor as coisas negativas do que as positivas. Quando conhecemos alguém, acabamos olhando mais facilmente os "defeitos" do outro, ao invés de suas qualidades.
Quando existe a separação entre um casal, o mais complicado é lembrarmos das boas coisas deste relacionamento, em compensação, as mágoas e problemas ficam estampadas de forma escancarada.
Por várias vezes já fui procurar no passado motivos para justificar quem eu sou. Reviro esta bagagem emocional em busca de algumas resposta e, não me dou conta que a resposta está bem a vista, não no passado, mas sim no presente, no fato de eu "querer" carregar comigo aquilo que já foi. Este fardo pesado acaba transformando o presente em algo escravizante, como se os grilhões do passado estivessem amarrados nos meus tornozelos, me impedindo de avançar livremente.
As diferentes lembranças, quer sejam boas ou ruins, são exatamente isso, lembranças. Já deixaram de ser um fato, não mais existem.
Acho que é por isso que algumas tradições pregam com tanta veemência que só existe um momento na nossa, o Presente. Somente neste exato momento podemos Ser, nos outros nós já fomos e ou então seremos. Se seremos, não devemos pensar nisso, pois até chegar o momento em que seremos, muitas novas cicatrizes já farão parte da nossa personalidade, podendo modificar a projeção do que planejamos que queremos Ser ali adiante.
Já ouvi muita gente dizendo que é assim ou assado, sem se darem conta que não são, mas sim que estavam de uma ou outra forma. O budismo chama a isso de "impermanência", ou seja, é algo que não é permanente, fixo.
Somos seres mutantes, bipolares. A passagem por cada um dos extremos varia de intensidade e de duração, mas, mesmo assim, todos passamos pelos momentos de altos e baixos. Somos algozes e vítimas, réu e juiz, carcereiros e prisioneiros. Nunca esquecendo que cada um vivencia estes diferentes personagens em graus distintos uns dos outros.
Quando realmente conseguimos viver o Presente, o atual momento, abrimos mão destes papéis. Aproveitamos o instante de forma plena, sem nos preocupar com os julgamentos, recriminações ou com o que possa vir a acontecer ali na frente. Apenas nos entregamos plenamente ao que estamos fazendo, dando o nosso melhor, independente de qualquer outra coisa.
Apesar de ser ainda um tanto quanto complicado de viver desta forma, tenho procurado praticar, sabendo que somente a prática pode levar a perfeição.

Tenham muita luz, paz, Amor e harmonia sempre.
Carlos Eduardo

Porto Alegre, 20 de outubro de 2010.

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