quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Divagando sobre Educar

Em uma das minhas últimas leituras, acabei devorando um livreto maravilhoso de Rubem Alves, chamado Conversas com quem gosta de ensinar.
Pesquisando a etmologia da palavra educar, descobri que esta provém do latim «educare», educar, instruir, ensinar, amestrar.
Me chamou muito a atenção para o último significado, Amestrar, que tem como sinônimo adestrar.
Fico pensando se simplesmente fazer um ser seguir conceitos pré-estabelecidos realmente é educar.
Lembro de outras leituras, principalmente sobre civilizações antigas, onde o conhecimento era transmitido na forma oral. Nesta forma de educação, se transmite uma idéia básica, mas os conceitos são formulados pelo aluno, de acordo com seu grau de entendimento. Já o ensino escrito acaba engessando o entendimento, uma vez que se prende aos conceitos ditados por outros.
Se formos analisar esta questão do ponto de vista histórico, que em muitos momentos se transforma em estórico, verificamos que por trás de todos os "pré-conceitos" (grafo desta forma para que as pessoas percebam que são duas palavras diferentes, que nos remetem a conceitos anteriores), sempre existiu uma clara tentativa de impor uma forma de pensar e agir para os outros, moldando a sua personalidade as regras defendidas pelo grupo que tem o Poder.
Quando o Brasil foi colonizado, não falo aqui daquilo que está escrito nos livros de história como sendo o descobrimento do Brasil, uma vez que existem descrições da terra tupiniquim desde o tempo dos fenícios, os índios foram considerados seres atrasados, selvagens e, consequentemente, não civilizados (mas também, não sifilizados). Quando os europeus aqui chegaram, sabendo que não seria uma tarefa fácil se apossar do País, foi feito um processo de "lavagem cerebral" com os nativos.
Aos poucos se introduziu uma nova cultura aos silvícolas, fazendo com que eles perdessem a sua identidade. O homem branco adestrou a população, sempre de olho no domínio que exerceria sobre estes.
Se olharmos outros exemplos, veremos que este mesmo processo ocorre.
Vejamos o surgimento da Igreja.
Muitos não percebem, mas boa parte do "conhecimento" e tradições que são transmitidos por ela, foram tomados de outras culturas. A caça as bruxas (pagãos) era uma forma de enraizar mais fortemente o seu domínio. O medo foi utilizado como uma arma para disseminar as idéias e conceitos que deveriam ser seguidos. Tudo era pecado e desagradava a Deus, mas ao Deus deles.
Olhando para a história mais recente, iremos perceber que as mesmas técnicas são utilizadas até hoje. Em Israel, os professores "ensinam" aos alunos que palestinos são ruins, que eles mataram seus antepassados e por isso merecem morrer também. Se cria um inimigo, se faz a população temer o inimigo e, assim, com o ódio instalado nas bases da sociedade, o grupo do Poder tem autonomia para continuar ditando normas e regras sem que o maioria se oponha a isso.
Outro caso recente se deu na Guerra do Golfo, onde o governo norte americano plantou a idéia de que o Iraque possuía um arsenal de armas de destruição em massa. A propaganda de terror era uma tentativa de amealhar simpatizantes para a sua causa. Se nos detivermos um pouco mais aos fatos históricos, veremos que o Iraque era um filho dos EEUU. Na época da guerra fria, foi injetado dinheiro americano neste país para servir de contra-ponto ao Irã e, consequentemente, ao regime comunista.
Esta guerra me lembra muito a estória do Dr. Frankstein.
Deixando de lado fatos históricos (estóricos), que servem como um ponto de entendimento para a questão educacional, passo a analisar o ensino propriamente dito.
No que se transformaram as nossas escolas atualmente? Eu as vejo como uma fábrica. Onde os professores recebem uma apostila (material didático) para produzirem seres robotizados/mecanizados. Quando compramos um eletrodomésticos, ele vem com um manual de uso. E é exatamente isso que os livros escolares se transformaram. Um manual de uso para as crianças.
Através deste manual "ensinamos" que elas devem aceitar tudo o que lhes é dito, sem questionarem o porque daquelas regras. Moldamos a sua personalidade de acordo com o que o status quo diz ser o melhor, mesmo que comprovadamente este melhor já tenha provado que não é o melhor. Adestramos eles para seguirem o caminho que é dado, dizendo que se houver um desvio neste caminho, eles irão se perder para sempre.
Dificilmente se faz com que estes pequenos seres desenvolvam o seu poder de decisão, de raciocínio e, desta forma, o seu poder de questionar as coisas.
Aplicamos a receita de bolo para todos, independente do seu grau de discernimento. Colocamos todos numa mesma tigela (salas de aula), misturamos bem, e esperamos que dali saia o pão de ló com o qual vamos confeccionar a torta.
Só que se esquece que estamos lidando com ingredientes diferenciados. Uns são farinha de trigo, outro de milho, outros centeio, aveia, tem os que são o fermento ou o leite. Cada um apresenta uma função diferente, uma forma de ser diferente, uma velocidade de internalizar as informações diferente.
Mas continuamos aplicando a mesma receita e, quando a massa está assada, notamos que só uma pequena parte dela ficou perfeita, o restante abatumou.
Quando vejo o resultado disso, me pergunto; a quem interessa que a maior parte da massa fique sem aproveitamento? Como podemos melhorar o rendimento destes mesmos ingredientes? Existiriam outras receitas para fazer com que os diferentes ingredientes demonstrem o máximo de resultado?
Tenho as minhas respostas para cada uma destas questões, mas como não tenho o intuito de "educar" (adestrar) ninguém, prefiro deixar que cada um desenvolva as suas próprias respostas.

Tenham muita paz, luz e harmonia sempre.
Carlos Eduardo

Porto Alegre, 17 de agosto de 2010.