sábado, 18 de junho de 2011

Divagando lembranças

Ontem me aconteceram dois fatos que são no mínimo inusitados.
No final da tarde eu estava terminando um trabalho no computador e de repente me veio uma vontade de olhar na janela que fica ao meu lado, da qual vejo a rua em frente ao meu apartamento.
Na rua passavam uma mãe e sua filhinha no colo, até onde pude perceber, elas olhavam aqui para dentro. Quando me virei para olhar, a menininha abriu um sorriso e a mãe parou, ficou toda envergonhada. Ao ver o sorriso da pequena, não me contive e escancarei o meu sorriso também. Logo após a mãe sorriu e as duas seguiram seu caminho.
Já na noite, estava conversando com uma amiga sobre dar carinho. Nisso recebo um e-mail falando das músicas que tocavam nas rádios no ano do nascimento. Abri o link e a primeira música que toca é "Smoke on the Water", do Deep Purple.
Enquanto conversava com esta amiga, me lembrei de um dia que considero o pior que tive. Foi quando minha avó materna faleceu. Passei boa parte deste dia sozinho em casa. Meus irmãos estavam viajando e meus pais estavam no velório. Para abafar meus gritos e choro, coloquei vários discos de heavy metal para tocarem. Um deles era exatamente Deep Purple.
Alguns anos após este dia, passei a me doar as pessoas. Procurando dar muito carinho e atenção aqueles que me cercam. Talvez seja pela experiência de ter precisado disso e não ter tido, ou simplesmente como forma de compensar o que não consegui transmitir de forma mais direta a vó.
Levei muitos anos para superar a dor que sentia. E, parece que neste ano, uma força maior está me fazendo colocar realmente tudo as claras.
Em fevereiro faleceu minha tia, que era extremamente parecida com a vó. Fui para o enterro em Santos, onde ela morava.
Tive a sensação que neste dia, estava prestando duas homenagens ao mesmo tempo. Me despedia da tia e da minha vó, algo que nunca tinha conseguido fazer.
Normalmente quando tocava no assunto sobre o que aconteceu a vó, meus olhos se enchiam de lágrimas e eu era tomado por dois sentimentos. Uma tristeza profunda e raiva. Hoje, ao escrever sobre isso, sinto saudades, apesar das lágrimas ainda se manifestarem, a dor desapareceu. Depois de mais de vinte anos, consegui me libertar da dor que carregava comigo.
Ia escrever ontem sobre isso, mas preferi deixar para hoje. Acho que estava com receio de machucar algumas pessoas com as lembranças daqueles que deixaram esta vida.
Agora, enquanto escrevo, lembro que outra amiga me disse num e-mail que eu ainda estava lutando com meu passado.
Sou muito grato por ter a oportunidade de estar cercado por pessoas que me querem bem, da mesma forma que sou grato por meus "Amigos" lá de cima me darem a chance de ir colocando cada um dos meus compartimentos internos em ordem.
Peço desculpa se este ficou um pouco embolado, sem sentido, mas precisava escrever, precisava deixar que isso tudo realmente saísse e abrisse espaço para novas experiências.

Tenham sempre muita luz, paz, harmonia e Amor.
Carlos Eduardo
Porto Alegre, 18 de junho de 2011.