Como toda boa criança, eu adoro brincar. De todas brincadeiras, tenho gostado muito de brincar com as palavras. As vezes desconstruindo algumas, em outras procurando diferenças entre aquelas que são consideradas sinônimos.
Pois hoje vou fazer os dois ao mesmo tempo.
Quando deitei na noite passada, a palavra recomeçar ficou transitando pelo meu pensamento.
É normal as pessoas falarem que vão recomeçar a vida. Isso me intriga, pois o prefixo “re” significa que vamos fazer algo novamente. Então recomeçar é começar de novo.
Mas, se eu parei algo que tinha iniciado, provavelmente é porque o resultado não estava sendo aquele esperado. Quando recomeçamos, estamos tentando criar em cima da mesma base algo diferente.
Apesar de ser um termo usual, acredito que um novo começo seja mais adequado.
Se algo está errado, devemos desconstruir isso, criar uma nova base e, aí sim, ter um novo começo, do zero.
Se recomeçamos, já partimos de uma base viciada, fragilizada, mas ao termos um novo começo, estamos trabalhando desde a fundação daquilo que queremos, com uma nova energia e, desta forma, criando um outro ambiente.
Muitas vezes eu recomecei, e com isso, acabei tendo os mesmos resultados. Apesar de ser mais fácil este processo, acabamos utilizando as mesmas ferramentas. Já, quando queremos um novo começo, temos que trabalhar mais. Precisamos fazer um processo de demolição planejada. Ir desconstruindo, separando os materiais aproveitáveis daqueles que já não terão mais utilidade. Criar uma nova base com as características que acreditamos serem essenciais e ir limpando os sentimentos/desejos/vícios que já não nos servem mais.
Sei que muitas vezes esta parte “ruim” está tão arraigada em nosso Ser que esta tarefa se torna algo muito árduo. Mas o resultado obtido será com certeza muito mais sólido.
Um novo começo inicia pela desconstrução, o que não deve ser confundido com a demolição. Pois no segundo processo, simplesmente colocamos tudo abaixo, sem nos preocuparmos com a reciclagem daqueles elementos que nos servem. Tudo vira lixo.
Tenho passado diversas vezes por recomeços, mas aos poucos, também tenho treinado um novo começo. Esta tarefa é bem complicada, pois é necessário que se processe situações que estão tão encravadas na personalidade que chegam a machucar quando são mexidas. Mas, aos poucos, as cicatrizes vão aparecendo e, com isso, a dor vai dando espaço a uma sensação de leveza.
Vou ficando por aqui, antes que eu recomece a brincar com mais palavras.
Tenham sempre muita luz, paz, harmonia e Amor.
Carlos Eduardo
Porto Alegre, 31 de dezembro de 2011.