Sempre acreditei que a melhor coisa na vida é o autoconhecimento,
mas hoje tenho minhas dúvidas quanto a isso.
Parece que quanto mais me conheço, mais perto eu chego da
insanidade.
Esta noite está sendo cruel. Além das dores físicas com as
quais convivo quase diariamente tem uns seis anos estarem me incomodando demais
hoje, ainda tem os fantasmas que resolveram sair do armário.
Todas as vezes que tentei relaxar e dormir, vinha o filme da
minha vida na cabeça. Isso não seria problema se o filme fosse completo, mas
quem editou ele deixou só as partes de terror. Sem contar os efeitos especiais
das luzes do quarto acendendo e desligando sozinha.
Revivi os seis acidentes de carro que tive, sendo que em
apenas um deles eu era o motorista. Relembrei da última vez que surfei. Das
várias vezes em que confiei nas pessoas, sendo que isso me custou uma prancha,
uma capa, uma mochila e um par de botinhas que emprestei e nunca mais foram
devolvidas, entre outras coisas.
Lembrei também de quando voltei da Bahia. Que o assunto de
alguns tios e primos era o fato de uma prima que tinha ido morar em São Paulo não
morar em São Paulo, mas que ela morava comigo.
Veio a minha mente também as várias noites que passei em
branco, não que não tivesse sono, mas porque tinha medo de dormir e ser
atacado, isso quando não era atacado acordado mesmo. Ou de quantas noites
deixei de dormir tentando dar paz para alguém que necessitava, e que dependendo
o tipo de ajuda, gerava mais ataques ainda.
Algumas das cenas nem consigo escrever sobre, pois me deixam
com muita raiva.
Quando comecei a escrever minhas divagações não me preocupei
com as críticas, mas hoje algumas delas me massacraram.
E no meio desta tempestade toda, lembrei-me de algo que foi
dito/perguntado algumas vezes pelas minhas colegas do curso de naturopatia. “O
que se passava pela minha cabeça que eu ficava quieto e sorrindo quase o tempo
todo”. E eu nunca respondi, pois muitas vezes nem eu mesmo sabia. Mas hoje eu
percebo que me sentia em casa, que eu não era tão diferente delas. Que apesar
das vivências diferentes, tínhamos muitas coisas em comum.
Muita gente não imagina o quanto me machuca ser tratado como
se eu fosse um anjo ou um santo. O peso que isso coloca nos meus ombros. O medo
de não decepcionar. O não poder ser eu mesmo. O ter que estar sempre disposto e
bem, mesmo que fosse só faixada. O ter que agir de forma exemplar sempre para
não parecer incoerente.
Já me disseram muitas vezes que eu preciso aprender a
apreciar a vida, que tenho que largar de mão meu lado espiritual e curtir mais.
Só que meu lado espiritual é o que me dá força para seguir adiante. Graças a
ele eu ainda não surtei completamente.
Sei que se sou assim foi por que eu escolhi. Que meus dons são
a forma de me redimir. Só que em muitos momentos eles me massacram,
principalmente quando não sei se o que sinto é realmente meu.
Queria que fosse fácil como muitos me dizem de fechar meu
canal, gostaria de poder realmente só receber o que eu quisesse. Mas já fiz
tudo que possa ser imaginado e nada funciona.
Então, acabo vivendo quase que isolado. Sinto-me deslocado
na maior parte dos lugares ou então tenho que passar o tempo inteiro me
controlando para não absorver coisas dos outros, o que desgasta demais.
Vejo seguido as pessoas dizerem da benção que é suas
famílias, de como o convívio com os seus é maravilhoso. E não tenho vergonha de
dizer que sinto inveja destas, pois não me sinto pertencente a minha família.
Tem pessoas que são maravilhosas na minha família, mas me privo do convívio com
elas por causa do resto, daqueles que passam o tempo todo me criticando e
falando mal e na minha presença me tratam como se eu fosse a melhor pessoa do
mundo. Pois é, o cinismo me cansa, me irrita e trás a tona o que de pior eu
tenho.
Tenho tanto medo de não ser aquilo que as pessoas imaginam
que eu sou que acabo não sendo nem eu mesmo. Fico em cima do muro, inseguro, me
achando a pessoa mais chata e sem graça que existe.
Posso dizer que hoje em dia estou melhor, mas que ainda
tenho muito que melhorar.
Carlos Eduardo
Porto Alegre, 10 de setembro de 2012.
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