segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Divagando - o retorno


Sempre acreditei que a melhor coisa na vida é o autoconhecimento, mas hoje tenho minhas dúvidas quanto a isso.
Parece que quanto mais me conheço, mais perto eu chego da insanidade.
Esta noite está sendo cruel. Além das dores físicas com as quais convivo quase diariamente tem uns seis anos estarem me incomodando demais hoje, ainda tem os fantasmas que resolveram sair do armário.
Todas as vezes que tentei relaxar e dormir, vinha o filme da minha vida na cabeça. Isso não seria problema se o filme fosse completo, mas quem editou ele deixou só as partes de terror. Sem contar os efeitos especiais das luzes do quarto acendendo e desligando sozinha.
Revivi os seis acidentes de carro que tive, sendo que em apenas um deles eu era o motorista. Relembrei da última vez que surfei. Das várias vezes em que confiei nas pessoas, sendo que isso me custou uma prancha, uma capa, uma mochila e um par de botinhas que emprestei e nunca mais foram devolvidas, entre outras coisas.
Lembrei também de quando voltei da Bahia. Que o assunto de alguns tios e primos era o fato de uma prima que tinha ido morar em São Paulo não morar em São Paulo, mas que ela morava comigo.
Veio a minha mente também as várias noites que passei em branco, não que não tivesse sono, mas porque tinha medo de dormir e ser atacado, isso quando não era atacado acordado mesmo. Ou de quantas noites deixei de dormir tentando dar paz para alguém que necessitava, e que dependendo o tipo de ajuda, gerava mais ataques ainda.
Algumas das cenas nem consigo escrever sobre, pois me deixam com muita raiva.
Quando comecei a escrever minhas divagações não me preocupei com as críticas, mas hoje algumas delas me massacraram.
E no meio desta tempestade toda, lembrei-me de algo que foi dito/perguntado algumas vezes pelas minhas colegas do curso de naturopatia. “O que se passava pela minha cabeça que eu ficava quieto e sorrindo quase o tempo todo”. E eu nunca respondi, pois muitas vezes nem eu mesmo sabia. Mas hoje eu percebo que me sentia em casa, que eu não era tão diferente delas. Que apesar das vivências diferentes, tínhamos muitas coisas em comum.
Muita gente não imagina o quanto me machuca ser tratado como se eu fosse um anjo ou um santo. O peso que isso coloca nos meus ombros. O medo de não decepcionar. O não poder ser eu mesmo. O ter que estar sempre disposto e bem, mesmo que fosse só faixada. O ter que agir de forma exemplar sempre para não parecer incoerente.
Já me disseram muitas vezes que eu preciso aprender a apreciar a vida, que tenho que largar de mão meu lado espiritual e curtir mais. Só que meu lado espiritual é o que me dá força para seguir adiante. Graças a ele eu ainda não surtei completamente.
Sei que se sou assim foi por que eu escolhi. Que meus dons são a forma de me redimir. Só que em muitos momentos eles me massacram, principalmente quando não sei se o que sinto é realmente meu.
Queria que fosse fácil como muitos me dizem de fechar meu canal, gostaria de poder realmente só receber o que eu quisesse. Mas já fiz tudo que possa ser imaginado e nada funciona.
Então, acabo vivendo quase que isolado. Sinto-me deslocado na maior parte dos lugares ou então tenho que passar o tempo inteiro me controlando para não absorver coisas dos outros, o que desgasta demais.
Vejo seguido as pessoas dizerem da benção que é suas famílias, de como o convívio com os seus é maravilhoso. E não tenho vergonha de dizer que sinto inveja destas, pois não me sinto pertencente a minha família. Tem pessoas que são maravilhosas na minha família, mas me privo do convívio com elas por causa do resto, daqueles que passam o tempo todo me criticando e falando mal e na minha presença me tratam como se eu fosse a melhor pessoa do mundo. Pois é, o cinismo me cansa, me irrita e trás a tona o que de pior eu tenho.
Tenho tanto medo de não ser aquilo que as pessoas imaginam que eu sou que acabo não sendo nem eu mesmo. Fico em cima do muro, inseguro, me achando a pessoa mais chata e sem graça que existe.
Posso dizer que hoje em dia estou melhor, mas que ainda tenho muito que melhorar.

Carlos Eduardo
Porto Alegre, 10 de setembro de 2012.


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